quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Antes de querer amor eu quero os meus direitos.



É já está tarde e eu não consigo dormir de preocupação... aproveitei para desabafar e escrever um texto...
Mais uma das muitas situações de racismo vividas...



 Enquanto uma mulher é racista com um grupo de estudantes negros eu ouço que racismo é subjetivo por parte do policial. E ao chegar na segunda delegacia, sou mais suspeita que a criminosa porque eu sou preta.  Lá não pode fazer retrato falado de uma criminosa que não se identifica no uniforme do próprio trabalho, porque ela é branca. Mas eu não posso andar sem a identidade na rua porque sou preta. Eu preciso saber o nome da criminosa porque sou  preta e o criminoso não é suspeito porque o suspeito- é branco? Ela pode ameaçar a gente, pode abusar da gente, pode abusar da ironia do poder porque o poder é  branco. Contudo, nós negros não podemos ter o direito de responder porque somos negros ela pode dizer o que quiser porque ela é branca. E racismo é subjetivo, eu ainda preciso ouvir isso com os meus próprios ouvidos porque sou preta, de uma boca racista que não se importa porque ela também  é branca.  A nossa cor nos denuncia. A dela favorece. Eu preciso provar além e ainda sim sou julgada de forma injusta e ela é aceita em todos os lugares porque ela tem a cor das pessoas que podem transitar. Ela pode abusar do poder porque vivemos numa relação de poder e ela é branca, mas nos não podemos abusar do muito que estudamos em argumentos porque somos negros. Ela diz que não deveriamos estar na universidade e que não temos cara de estudantes [porque somos pretos].Ela tem cara de gente trabalhadora só porque é branca. Nós não podemos estudar pelo campus da universidade nem andar juntos, menos ainda rir juntos porque somos pretos. Ela tem o direito de andar armada dentro da universidade porque é branca. Nossa cor nos denuncia porque somos pretos, contudo  nos olhares obliquos do país racista em que vivemos, da policia racista, universidade racista, onde a cor é um sortilégio para os brancos. Ela pode seguir todo um grupo de estudantes negros porque é branca. Pode mandar a segurança da universidade seguir a gente aos quatro cantos porque somos negros. e eles têm total direito e dever de combater os negros na universidade porque são brancos.  Nós deveríamos ficar de cabeça baixa porque somos negros e ela de ordenar , bater, reprimir e humilhar porque é branca. Nos não temos direitos porque somos negros ela tem privilegios e uma cidadania paralela porque é branca. Não, o racismo é subjetivo, onde? É que eu ainda não sei. Baseado em que? Nos brancos. Porque nós negros não temos legitimidade para falar de racismo, ele é coisa da nossa cabeça. É uma acusação que aponta para o preto oprimido seja na palavra, na dúvida, na arma mirada por uma mão branca. Não importa se errado, certo ou sem defesa. Se o corpo negro fala e discute ele merece apanhar e obvio sentir dor. De preferencia que amanheça no chão estirado, quem mandou se defender? É apenas um corpo negro, pesado das marcas e estigmas que carrega. É só mais um. Sempre é. Vítima da violencia das piadas, da violencia da mídia, da escola, da universidade, dos livros, dos que se dizem educadores, do projeto genocida do Estado Brasileiro... O corpo negro é o único que não pode falar de racismo. Porque racismo é subjetivo pra ele. A mente negra que pensa sobre racismo é preconceituosa, o negro não pode pensar menos ainda sobre o racismo. Não tem legitimidade nem autoridade para falar deste assunto e menos ainda do que sente. Nós sentimos? 



Acorda hipocrisia!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Eu não consigo parar de  ver esse programa, foi um grande achado na net... aproveitem... as negas arrasam!

Programa REconhecer - Mulheres Negras - Programa de TV WEB





Programa REconhecer 02 - Saúde / Hipertensão - 

Programa de TV WEB







REconhecer - é descortinar o passado e redefinir o futuro
O objetivo do programa REconhecer é evidenciar a diversidade do universo feminino, geralmente apresentado de maneira reducionista e unilateral.
O REconhecer é um jeito diferente de valorizar as heranças africanas: a partir da nossa voz, da nossa cara e da nossa escrita!
Programa está disponibilizado em nosso site www.estimativa.org.br
Conforme o cronograma:
01/08/2011 - Tema: Mulheres Negras - Convidada: Sra Ana Maria Felipe

01/09/2011 - TEma: Hipertensão - Convidada: Dra Jurema Werneck

01/10/2011 - Tema: Mulheres Negras no Mercado de Trabalho - Convidada: Lia Vieira

01/11/2011 - Tema: Educação Sexual - Convidada: Dra Berenice Aguiar.

Créditos:

Apresentadora: Neide Diniz
Griot: Vanda Ferreira
Produção Executiva: Jana Guinond
Direção: Janaína Oliveira Re.Fem
2ª fotografia: Nina Silva
Fotografia (Still): Janaína Oliveira Re.Fem, Juliana Baraúna, Flavia Vieira, Jana Guinond e Nina Silva
Roteiro e pesquisa: Neide Diniz, Jane Gomes e Flávia Vieira
Figurino: Jane Gomes
Povo fala: Flávia Vieira e Jana Guinond
Vinhetas -- Marcos Shaft
Assistente de produção: Giselle Moraes, Iris Jane e Gracianne Daudt
Tranceiras: Claudia Custodio e Ednéa Rubim
Produção: Deni Moura, Ednéa Rubi e Jana Guinond
Edição e Finalização: Juliana Baraúna
Trilha sonora: Lisa Castro
Maquiagem: Marilza Xavier
Comunicação: Luanda Negreira

Convidadas:
Ana Maria Felipe
Dra. Berenice de Aguiar
Lia Vieira
Dra. Jurema Werneck

Agradecimentos:
Memorial Lélia Gonzáles
Bruno Morais (Zani Assessoria)
CAVALERA
CABROCHA
CARLA CARLIN
COLCCI
LEI BÁSICA
OPÇÃO
SOBRAL
VERTY
VIX

Apoio:
Ponto de Cultura Cinemina Pontos de Visão
Burburinho Soluções Produções Artísticas

Categoria:

Palavras-chave:


Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4R2ZoGYL1Vw&feature=relmfu retirado dia 14/10/2011



afrobeijos
Depois de ver o vídeo repense seus conceitos...




"Para você o que é ter boa aparência? O pgm REconhecer, apresenta sua 3ª edição buscando a discussão sobre o mercado de trabalho. Como a sociedade percebe e aceita a mulher negra neste contexto social? abrir essa discussão para uma maior compreensão da nossa visibilidade na roda de negócios é REconhecer nossa capacidade de interagir e buscar soluções, será que ter boa aparência é estar literalmente bem vestido? REconheça sua identidade para que assim você venha a ser incluso dentro dos padrões físicos e estéticos da nossa sociedade."
Saiba mais sobre a Estiamtiva www.estimativa.org.br


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

John Lennon - A morte do Cisne







 Fase Final - Se Ela Dança Eu Danço 22/06/2011



"Valorizar as diferenças na infância, é cultivar igualdades"


Parabéns a todas as crianças do Brasil ainda que infelizmente algumas não saibam nem o que é viver em seu sentido pleno.
Nada como um ator negro e consciente e agora papai para falar do assunto...







sexta-feira, 30 de setembro de 2011



“Na luta contra o racismo, o silêncio é omissão”.

Jacques d´Adesky








Jacques d’Adesky
Doutor em ciências: antropologia social pela Universidade de São Paulo, diplomado pelo Instituto de Países em Desenvolvimento e licenciado em ciências econômicas pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Trabalhou como funcionário internacional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na República Centro-Africana. Foi assessor internacional do Centro Cultural Candido Mendes e vice-diretor administrativo do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da UCAM. Trabalhou como coordenador do Programa Sul-Sul do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), em Buenos Aires, Argentina. Atualmente, é pesquisador do Centro de Estudos das Américas da UCAM. No campo social, foi presidente do Centro Brasileiro de Documentação e Informação do Artista Negro (CIDAN) e conselheiro do Grupo Cultural Olodum. Em Junho de 2008 até Janeiro de 2011, foi membro do Comitê Diretor da ONG Conectas Direitos Humanos, em São Paulo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011








Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.
Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
/Dançar na chuva quando a chuva vem.
Felicidade- Marcelo Jeneci







quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Solano Trindade O POETA DO POVO





TEM GENTE COM FOME
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu

sábado, 10 de setembro de 2011

Alice WALKER




Cabelo oprimido é um teto para o cérebro




Por Alice Walker
Como muitos de vocês devem saber, fui aluna desta faculdade, há muitas luas. Eu me sentava nessas mesmas cadeiras (às vezes ainda com o pijama sob o casaco) e olhava para a luz que entra por estas janelas. Eu ouvia dezenas de palestras encorajadoras e cantei e ouvi música maravilhosa. Acho que sentia que ia voltar para falar deste lado do pódio. Acho que naquele tempo, quando eu estudava aqui, adolescente ainda, eu já pensava no que diria a vocês, hoje.
Talvez os surpreenda saber que não pretendo falar (talvez até o período de perguntas e respostas) sobre guerra e paz, economia, racismo ou sexismo, ou sobre os triunfos e atribulações dos negros ou das mulheres. Nem sobre filmes. Embora os mais atentos possam ouvir em minhas palavras a preocupação por alguns desses assuntos, vou falar sobre algo muito mais perto de nós. Vou falar sobre cabelo. Não se preocupem com o estado dos seus cabelos neste momento.
        Não fiquem alarmados. Não se trata de uma avaliação. Simplesmente quero compartilhar com vocês algumas experiências com nosso amigo cabelo, e espero entreter e divertir a todos.
Durante um longo tempo, desde a primeira infância até a idade adulta crescemos física e espiritualmente (incluindo o intelecto com o espírito), sem que nos demos muito conta do fato. Na verdade, alguns períodos do nosso crescimento são tão confusos, que nem percebemos que se trata de crescimento. Podemos nos sentir hostis, zangados, chorosos ou histéricos, ou deprimidos. Jamais nos ocorre, a não ser que encontremos por acaso um livro ou uma pessoa capaz de explicar, que estamos em processo de mudança, de crescimento espiritual. Sempre que crescemos, sentimos, como a semente nova deve sentir o peso e a inércia da terra, quando procura sair da casca para se transformar numa planta. Geralmente não é uma sensação agradável. Porém, o mais desagradável é não saber o que está acontecendo. Lembro-me das ondas de ansiedade que me envolviam nos diferentes períodos de minha vida, sempre se manifestando por meio de distúrbios físicos (insônia, por exemplo) e como eu ficava assustada, porque não entendia como aquilo era possível.
Com a idade e a experiência, vocês ficarão satisfeitos em saber, o crescimento torna-se um processo consciente e reconhecido. Ainda um pouco assustador, mas pelo menos compreendido. Aqueles longos períodos, quando algo dentro de nós parece estar esperando, contendo a respiração, sem saber qual será o próximo passo, com o tempo transformam-se em períodos esperados, pois enquanto ocorrem, compreendemos que estamos sendo preparados para a próxima fase da nossa vida e que provavelmente vai se revelar um novo nível de personalidade.
Alguns anos atrás passei por um longo período de inquietação, disfarçado em imobilidade. Isto é, isolei-me do grande mundo a favor da paz do meu mundo pessoal, muito menor. Eu me desliguei da televisão e dos jornais (um grande alívio!), dos membros mais perturbadores da minha grande família, e da maioria dos amigos. Era como se eu tivesse chegado a um teto no meu cérebro. E sob esse teto minha mente estava extremamente inquieta, embora tudo em mim estivesse calmo.
Como é comum nesses períodos de introspecção, contei as contas do meu progresso neste mundo. No relacionamento com a família e os antepassados eu agira respeitosamente (nem todos concordarão, acredito); no meu trabalho eu havia feito, usando toda a habilidade de que disponho, tudo que era exigido de mim; no relacionamento com as pessoas com quem convivo diariamente, eu agira com todo amor que podia encontrar no meu íntimo, Eu começava também, finalmente, a reconhecer minha responsabilidade para com a Terra c minha adoração do Universo. O que mais então eu devia fazer? Por que, quando eu meditava e procurava o alçapão de escape no alto do meu cérebro, o qual, nos outros estágios do crescimento, eu sempre tive a sorte de encontrar, só achava agora um teto, como se o caminho para me identificar com o infinito, o caminho que eu costumava trilhar, estivesse selado?
Certo dia, depois de ter feito ansiosamente essa pergunta durante um ano, ocorreu-me que, no meu ser físico, havia uma última barreira para minha libertação espiritual, pelo menos naquela fase: meu cabelo.
Não meu amigo cabelo propriamente, pois logo percebi que ele era inocente. O problema era o modo pelo qual eu me relacionava com ele. Eu estava sempre pensando nele. Tanto que, se meu espírito fosse um balão, ansioso para voar e se confundir com o infinito, meu cabelo seria a pedra que o ancoraria à Terra. Compreendi que seria impossível continuar meu desenvolvimento espiritual, impossível o crescimento da minha alma, impossível poder olhar para o Universo e esquecer meu ego completamente nesse olhar (uma das alegrias mais puras!) se continuasse presa a pensamentos sobre meu cabelo. Compreendi de repente porque freiras e monges raspam as cabeças!
Olhei no espelho e comecei a rir de felicidade! Tinha conseguido abrir a pele da semente e estava subindo dentro da terra.
Então comecei as experiências. Durante alguns meses usei longas tranças (era moda entre as mulheres negras na época) feitas com o cabelo de mulheres coreanas. Eu adorava isso. Realizava minha fantasia de ter cabelos longos e dava ao meu cabelo curto e levemente processado (oprimido) a oportunidade de crescer. A jovem que trançava meu cabelo era uma pessoa que eu acabei adorando - uma jovem mãe lutadora; ela e a filha chegavam à minha casa às sete da noite e conversávamos, ouvíamos música, comíamos pizzas ou burritos, enquanto ela trabalhava, até uma ou duas horas da manhã. Eu adorava o artesanato dos desenhos criados por ela para a minha cabeça. (Trabalho de cesteiro! exclamou uma amiga, tocando a teia intrincada na minha cabeça.) Eu adorava sentar entre os joelhos dela como sentava entre os joelhos de minha mãe e de minha irmã enquanto elas trançavam meu cabelo, quando eu era pequena. Eu adorava o fato do meu cabelo crescer forte e saudável sob as "extensões", coma eram chamadas as tranças.
Eu adorava pagar a uma jovem irmã por um trabalho realmente original e que fazia parte da tradição do penteado dos negros. Eu adorava o fato de não precisar tratar do meu cabelo a não ser com intervalos de dois ou três meses (pela primeira vez na vida eu podia lavar a cabeça todos os dias, se quisesse, e não fazer nada mais). Porém, uma vez ou outra as tranças tinham de ser retiradas (um trabalho de quatro a sete horas) e feitas novamente (mais sete a oito horas); também eu não me esquecia das mulheres coreanas que, de acordo com minha jovem cabeleireira, deixavam crescer o cabelo expressamente para vender. É claro que essa informação me fez pensar (e, sim, me preocupar) sobre os outros aspectos de suas vidas.
Quando meu cabelo atingiu dez centímetros de comprimento, dispensei o cabelo das minhas irmãs coreanas e trancei o meu. Só então renovei o conhecimento com suas características naturais. Descobri que era flexível, macio reagindo quase com sensualidade à umidade. Com as pequenas tranças girando para todos os lados, menos para onde eu queria que virassem, descobri que meu cabelo era voluntarioso, exatamente como eu! Vi que meu amigo cabelo, tendo recuperado vida própria, tinha senso de humor. Descobri que eu gostava dele.
Mais uma vez na frente do espelho, olhei para minha imagem e comecei a rir. Meu cabelo era uma dessas criações estranhas, incríveis, surpreendentes, de parar o tráfego - um pouco parecido com as listras das zebras, com as orelhas do tatu ou os pés azul-elétrico do mergulhão - que o universo cria sem nenhum motivo especial a não ser demonstrar sua imaginação ilimitada. Compreendi que jamais tivera a oportunidade de apreciar o cabelo em sua verdadeira natureza. Descobrir que ele, na verdade, tinha uma natureza própria. Lembrei-me dos anos que passei agüentando cabeleireiros - desde o tempo de minha mãe - que faziam trabalho missionário nos meus cabelos. Eles dominavam, suprimiam, controlavam. Agora, mais ou menos livre, ele ficava todo espetado para todos os lados. Eu telefonava para todos meus amigos no país para relatar as travessuras do meu cabelo. Ele jamais pensava em ficar deitado. Deitar de costas, na posição missionária, não o interessava. Ele cresceu. Ficar curto, cortado quase até a raiz, outra "solução" missionária, também não o interessava. Ele procurava espaços cada vez maiores, mais luz, mais dele mesmo. Ele adorava ser lavado; mas isso era tudo.
Finalmente descobri exatamente o que o cabelo queria: queria crescer, ser ele mesmo, atrair poeira, se esse era seu destino, mas queria ser deixado em paz por todos, incluindo eu mesma, os que não o amavam como ele era. O que acham que aconteceu? (Além disso, agora eu podia, como um bônus adicional, compreender Bob Marley como o místico que suas músicas diziam que era). O teto no alto do meu cérebro abriu-se; mais uma vez minha mente (e meu espírito) podia sair de dentro de mim. Eu não estaria mais presa à imobilidade inquieta, eu continuaria a crescer. A planta estava acima do solo.
Essa foi a dádiva do meu crescimento, no meu quadragésimo ano. Isso e saber que enquanto existir alegria na criação haverá sempre novas criações para descobrir, ou redescobrir, e que o melhor lugar para olhar é dentro de nós mesmos. Que a própria morte, sendo parte da vida, deve oferecer pelo menos um momento de prazer.




Fiz esta palestra no Dia dos Fundadores, 11 de abril de 1987, no Spelman College, Atlanta










sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Confiança





O oceano separou-se de mim
enquanto me fui esquecendo nos séculos
e eis-me presente
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo.
Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso
Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíam mundos maravilhosos
john foi linchado
o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher  amordaçada
e o filho continuou ignorante
E do drama intenso
duma vida imensa e útil
resultou a certeza
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de chão
















António Agostinho Neto nasceu em 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxikane, região de Icolo e Bengo, a cerca de 60 km de Luanda, Angola. Sua poesia, tem suas raízes históricas mergulhadas na longa tradição da literatura angolana patriótica que data já as últimas décadas do século XIX. Empenhou-se em movimentos nacionalistas e anticoloniais, o que pode ser notado pela maior parte dos seus poemas em que expõe o sofrimento do seu povo, sendo um dos poetas angolanos mais consagrados e primeiro presidente da Angola independente.

A canção dos Homens



Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da criança.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção.
Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na “viagem”.
Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam a sua canção.
A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.
Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém.
Teus amigos conhecem a “tua canção” e a cantam quando a esqueces.
Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio; tua totalidade quando estás quebrado; tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.
Tolba Phanem

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conceição Evaristo



          Eu gostaria de falar muitas coisas sobre o vídeo, sobre esse exemplo de mulher negra e  guerreira que é a Conceição Evaristo. Antes eu achava que uma boa escritora era aquela que me deixava cheia de dúvidas para discussão, que me fazia falar dias sobre o que eu li aos quatro cantos do mundo. Mas agora eu sei que autora de verdade, uma autora como ela, deixa a gente é sem palavras... Sim, vi que para falarmos de algumas pessoas, não precisamos descrevê-las e sim apresentá-las, mostrar o que são capazes. Afinal, o que importa é o que fazemos ao longo do caminho. Então, para não limitar o mundo de belos adjetivos que possui, visto que meu vocabulário não é vasto o suficiente e acredito que a nossa língua também não chegaria aos pés de uma pessoa que consegue fazer das palavras doce, em meio a tantos esmagamentos nas moendas diárias do racismo, da colonialidade, da opressão, do sofrimento, do machismo e de tudo que fere nossos corações... e nos afasta das coisas mais simples, mais descomplicadas e bonitas. Respeitando e considerando a capacidade individual de elevar-se e alimentar-se por meio das palavras deixo hoje uma pequena parte de uma imensa relíquia... 


"...A nossa escrevivencia não pode ser lida como história para ninar os da casa grande e sim para acordá-los de seus sonos injustos..." 
Conceição Evaristo



quarta-feira, 7 de setembro de 2011







Poesia para caminhar,
 versos para tecer
[ e desvendar o mundo]
um oceano profundo 
que vive a te rodear
como rios em curso
que não importando o percurso
desaguam no mar

Vai poeta, solta-se desses laços
o coração pode estar em pedaços
[que a Terra não pára de girar]
Vai poeta, põe-se a rimar
Ou dessas águas faz um oceano
ou nelas encara-te a mergulhar.

Patrícia Rodrigues
[Poesia feita para meu grande amigo Wallase Botelho às 14:03, quinta do primeiro dia do mês de setembro já sob um dos signos mais doces do horóscopo. Feliz aniversário... amo você]

O perigo de uma única história

... E assim começo, ou melhor, (RE)começo as postagens do meu canto. Nosso olhar é o que nos faz observar a vida composta, por sua vez, de muitas histórias sobrepostas, de olhares do -OUTRO. Esse olhar ao qual me refiro, é branco, ocidental, heterossexual, machista...  A escritora Chimamanda Adichie conta a história do seu caminho para tornar ser negra e como a partir disso ela encontrou-se com a autêntica voz cultural. A partir daí,  adverte-nos do perigo de olharmos e ouvirmos somente uma única história, O perigo de uma única história.








Beijos AFROcentrados
S2